Verdade: Identidade de uma representação com a realidade representada. Ou seja, quando a representação (isto é, a idéia, o discurso, o texto, a imagem) é idêntica ao real que é representado, essa representação é tida como verdadeira.
Direito é, ao mesmo tempo, um complexo de leis ou normas que
regem as relações entre os homens (ou seja, uma estrutura normativa), e
também a ciência que estuda essas leis e normas.
História é o próprio passado, mas é também a ciência que estuda esse passado.
Como a ciência histórica e a ciência do Direito lidam com o conceito de verdade?
Imaginem-se enquanto advogados ou promotores produzindo uma verdade.
(Pois é isso o que eles fazem: eles recolhem dados, selecionam esses
dados e os costuram em um quadro explicativo que tem como objetivo
tornar-se uma verdade).
A História, enquanto ciência, também faz isso. A História não é
imutável, não é um dado absoluto; ela é construída e reconstruída no
decorrer do tempo por vários historiadores – por cientistas da história
–, que privilegiam diversos temas e épocas e que, a partir de
perspectivas e pontos de vista diferenciados, visam à produção de uma
verdade: verdade essa que pode, mais tarde, ser contestada por outros
historiadores.
É importante que vocês saibam que o resultado desse processo de produção
da verdade histórica depende muito de quem está construindo essa
história e de onde esse historiador está falando, ou seja, do lugar
social, ideológico e político em que ele está inserido.
Com relação ao advogado ou ao promotor, o que, na minha opinião,
determina mais o processo de construção de uma verdade é a necessidade
de convencer, de ganhar a causa. E o resultado desse processo depende
muito da perspicácia, da argúcia, da capacidade desse profissional em
unir fragmentos de discurso, evidências e provas em um todo de sentido
coerente, lógico, plausível, convincente.
Às vezes o advogado tem em mãos provas e testemunhos importantes, mas a
sua incapacidade de reunir isso tudo num todo de sentido coerente
compromete o resultado. E pode acontecer também dele pegar um caso
fadado ao fracasso (por falta de fragmentos a serem trabalhados de forma
consistente) e ganhar a causa graças à sua capacidade de montar um
discurso coerente.
Tanto no trabalho de história quanto no discurso e na retórica do
direito – quando esse discurso e essa retórica se fazem necessários –,
nós estamos diante do resultado de uma montagem, de uma reunião de
“planos-sequência-narrativos” que, ao se juntarem, criam um certo
sentido (ou constroem um todo de sentido).
Um exemplo interessante que eu gosto de citar é o daquela famosa cena do
assassinato no chuveiro, do filme "Psicose", de Alfred Hitchcock,
realizado em 1960. Em nenhum momento a faca toca a vítima, mas a
montagem faz parecer que sim. A cena dura poucos segundos, mas tem mais
de 30 planos-sequência, que ao serem reunidos na montagem, fazem parecer
que a personagem realmente levou todas aquelas facadas.
A montagem mexe com a emoção do espectador: se ela é bem feita, pode
extrair de quem vê o resultado os sentimentos mais diversos.
Eu não quero dizer que o historiador, o advogado ou o promotor não
estejam preocupados com a verdade. Mas eles sabem que, na grande maioria
das vezes (para não dizer “sempre”), a verdade não pode ser atingida.
Para assistir à cena do chuveiro, do filme "Psicose" (1960), clique aqui
Para assistir ao trailer do filme "Cabo do medo" (1991), clique aqui
Para assistir à cena do chuveiro, do filme "Psicose" (1960), clique aqui
Para assistir ao trailer do filme "Cabo do medo" (1991), clique aqui
"Se o povo não conhece a própria história está condenado a repeti-la." Eis o motivo de se estudar a Historia. Fantastica didatica de ensino de forma vivenciativa, narrativa, dinamica, e nao apenas decorada. Parabens e obrigado Professor, adorei a aula.
ResponderExcluirObrigado, Raphael. Espero que vocês gostem da disciplina. Vou me esforçar o máximo para isso. Bons estudos!
ExcluirOlá, professor Flávio Marcus! Parabéns pela aula! O estudo da História é fundamental para uma sociedade entender o seu processo de formação. Aproveitando a oportunidade, encontrei este livro em pdf, já comecei a lê-lo e estou adorando. http://www.unama.br/editoraunama/images/stories/livro/historia-do-direito.pdf
ResponderExcluirOlá Professor Marcos! Valeu pela dica do livro (Fundamentos de história do direito Antonio Carlos wolkmer. Até a proxima aula
ResponderExcluirOlá, Elis e "EU MEU". Boa leitura para vocês. Elis, o livro que você encontrou eu não estou conseguindo baixar aqui, mas depois vou dar uma olhada. Parece interessante. Na biblioteca da FAPAM tem um que eu gosto muito: "Introdução Histórica ao Direito", de John Gilissen, mas prefiro trabalhar com a coletânea do A. C. Wolkmer, "Fundamentos de História do Direito" (que eu acabo de indicar no blog).
ResponderExcluirEstou adorando as aulas professor!!
ResponderExcluir"O passado não é o antecedente do presente, é a sua fonte"
_ Ecléa Bosi
Obrigado, Luana. É isso mesmo. Olhar o passado para entender e viver bem o presente.
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